NOVA ENTREVISTA COM O “VELHO CORONA”
Garantido que está um lugar na História da Humanidade (pelos piores motivos), o Corona Vírus, num rigoroso
exclusivo, quebra o silêncio e conta tudo. Mesmo aquilo que não queríamos
saber. Sem tabus, com o humor possível (dadas as circunstâncias), e uma dose avantajada de realidade.
Cerca de um ano decorrido após aparecer, impõe-se fazer um ponto de situação. Está de acordo?
- Se é
assim tão importante para as pessoas… pensava que aqui já estavam fartos dos diretos
diários com a Graça Freitas e a Marta Temido. Aquilo até faz mal à cabeça, credo! Mas olhe, tenho de lhe dizer, à
conta disso aprendi linguagem gestual, por isso não se perdeu tudo.
Posso tratá-lo por Corona?
- Esteja à vontade. Não sou desses que a fama lhes sobe à cabeça. Afinal, é o meu
nome de batismo, apesar de ser muitas vezes confundido com uma cerveja mexicana. Se quiser, também pode
tratar-me por Tecatito que é como sou conhecido no Porto.
Corona, como se encontra neste momento? Na nossa última conversa, fez inclusive um
apelo aos portugueses para se “encostarem a si”, à boleia do refrão de uma música
do Jorge Palma…
- E vocês
fizeram isso mesmo! São espetaculares os portugueses! De início foram
reservados, ao contrário de outros países, mas com o passar do tempo foram-se
soltando e fomos ficando cada vez mais próximos. De tal forma que… desculpe, agora emocionei-me… sou de lágrima fácil, já lhe tinha dito da outra vez…
Estava a dizer que foi de tal forma…
- Que
me convidaram para passar o Natal nas suas casas! Senti-me tão confortável, como
se fizesse mesmo parte daquelas famílias. Beijos e abraços, dos mais novos aos mais
velhos, qual distância social qual quê… alguns já com “um grão na asa” e, apesar de
aconchegados com bacalhau, a “arrotar postas de pescada”… olhe, só lhe digo que aquilo às tantas foi “de caixão à cova”… esta
foi infeliz, desculpe lá. O convívio foi de tal forma que até
já estou a adotar as vossas expressões mais populares!
Pois, por tudo isso é que tivemos de ficar confinados outra vez.
- “A porca torceu o rabo”, não é? Sim, algumas pessoas não aguentaram a pedalada. Foi muita
emoção, sabe? E nas festas exagera-se sempre um bocado, está bom de ver. Mas também
é preciso, não acha? Senão a vida não tem sabor.
O que é certo é que, a partir daí, o seu “negócio” ganhou novos
contornos. Quer explicar o que aconteceu?
- Olhe,
após alguns maus resultados, decidi levantar a cabeça e continuar a trabalhar. Houve
uma altura em que já ninguém dava nada por isto, mas eu sabia que, mantendo o sistema
de jogo, as coisas acabariam por acontecer naturalmente. Paralelamente, foi feita uma aposta
nas camadas jovens e, de repente, os números explodiram para máximos nunca
vistos.
Está a referir-se às variantes inglesa e sul africana?
- Sim,
sim! Foi azar, disseram alguns… quando deram por elas já iam lançadas. E estou agora a aperfeiçoar uma variante brasileira para fazer ”sambar” as farmacêuticas!
Foi essa a forma que encontrou para combater as vacinas que apareceram
entretanto?
- Exato. Que estão a levar uma eternidade para ser distribuídas… “isso agora tem de se
ver”, dizem… quando vi que tinha tempo, decidi começar a baralhar e dar
de novo. São estratégias, sabe? Algumas vacinas, quando se aperceberam das novas
variantes, começaram a fazer uma gritaria tal que até parecia que tinham levado
com um pau!
Mas, mesmo com as variantes, sabe que a imunidade será uma realidade com
as vacinas. Vai ser o fim da sua “atividade”?
- “Fia-te
na Virgem e não corras”, como vocês costumam dizer. Meu caro amigo, sei que vou
desiludi-lo, mas uma atividade desta dimensão dificilmente acaba. Já me estou é
a preparar para que se transforme numa cash cow.
Queria dizer “vaca leiteira”?
- Desculpe, com as constantes reuniões internacionais adquiri uma linguagem demasiado técnica e alguns estrangeirismos.
Sim, quero garantir a presença num mercado global estabilizado, sem taxas de
crescimento significativas, mas com resultados mínimos garantidos.
Posso então deduzir que, mesmo que não desapareça totalmente, vai
desacelerar?
- Pode.
A verdade é que isto tem sido demasiado intenso para mim e, muitas vezes, sinto
que não fui devidamente apreciado. É muita pressão. Cheguei a ser apelidado de “chato de galochas”,
acha normal? Por isso, não me quero andar a arrastar, está na altura de dar
lugar a outros e pensar na minha reforma. Isto apesar de a economia estar uma
desgraça e já saber que vou ter uma pensão miserável que nem para medicamentos
vai chegar… bem, uma vez que tive grande responsabilidade nisso, não posso
falar muito. Mas olhe, como também já vos ouvi dizer, “quando mal nunca pior”.
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