LIVRE IDENTIDADE
Em 1963,
o líder dos direitos civis, Martin Luther King, conduziu mais de 250 mil manifestantes
numa marcha pacífica sobre Washington DC (EUA).
Juntaram-se
em frente ao Lincoln Memorial para clamar igualdade de
direitos para todas as pessoas, independentemente da cor ou raça.
Este
movimento foi despoletado devido às inúmeras situações de desigualdade (e
criminalidade), que foram ocorrendo ao longo dos anos, algumas delas fruto de raciocínios
absolutamente selvagens que vigoravam na cabeça de segmentos extremistas
radicais, como por exemplo este: “basta uma só gota de sangue negro para tingir
um oceano de brancura caucasiana” (Ku Klux Klan).
Rosa
Parks, que se tornou um símbolo dos direitos civis, introduziu um fator
acelerador de mudança ao recusar-se a dar o seu lugar no autocarro onde seguia.
Depois da detenção de Parks, o pastor King organizou e liderou vários protestos
(todos pacíficos), que o conduziram também à prisão.
Quando
o libertaram, realizou então a enorme marcha onde proferiu o seu célebre
discurso: “Eu tenho um sonho de que os meus filhos um dia vivam numa nação em
que não sejam julgados pela cor da sua pele, mas sim pelo conteúdo do seu caráter”.
Anos
antes, Kenneth Clark realizou um importante estudo que permitiu determinar que “aos
três anos, as crianças já têm consciência racial e podem começar a formar
preconceitos”. Este estudo revelou que crianças brancas e negras manifestavam
preferência pela pele branca e rejeição pela negra (a maioria das crianças escolheu
bonecos de pele branca).
Após colocar
a questão “quem ensina uma criança a odiar e a temer pessoas de outra raça?”,
Clark concluiu que um contexto de segregação racial e uma influência negativa
de pais, educadores, companheiros e meios de comunicação fazem com que a
criança, lamentavelmente, interiorize atitudes racistas.
Quase
um século depois, está à vista de todos que ainda há muito para mudar. Disse o
Padre António Vieira que “para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao
coração, são necessárias obras” (sim, o mesmo a quem vandalizaram a estátua com
acusações desprovidas de senso e de conhecimento enquadrado). Existe, de facto,
uma extrema necessidade e urgência de mais e melhores intervenções pedagógicas
e de consciencialização efetiva.
“Creio,
primeiro, que o mundo em nada nos melhora, que nascemos estrelas de ímpar
brilho, o que quer dizer, por um lado, que nada na vida vale o homem que somos,
e por outro lado, que homem algum pode subestimar a outro homem. Penso,
portanto, que a natureza é bela na medida em que reflete a nossa beleza, que o
amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se
reflete, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado pelas nossas próprias deficiências,
e que afinal, Deus é grande na medida em que somos grandes nós mesmos: o tempo
que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno. E penso, quanto à segunda
parte, que todo o homem é diferente de mim e único no universo; que não sou eu,
por conseguinte, quem tem de refletir por ele, não sou eu quem sabe o que é
melhor para ele, não sou eu quem tem de lhe traçar o caminho; com ele só tenho
o direito, que é ao mesmo tempo um dever: de o ajudar a ser ele próprio; como o
dever essencial que tenho comigo é ser o que sou, por muito incómodo que tal
seja, e tem sido, para mim mesmo e para os outros. Quanto aos outros, até, e
sobretudo, no amor se tem de ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem,
tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos que vinham
para viver; é esta uma das boas intenções de que mais está cheio o inferno; não
tens, essencialmente, de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua;
têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar
de ser donos do escravo” – Agostinho da Silva
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