VIRTUDE NO MEIO
“A morte é a solução para todos
os problemas. Se não houver homens, não haverá problemas” – Estaline
Ponderação, ética e moralidade
eram conceitos que não faziam parte do pensamento de Estaline.
Os seus raciocínios dialéticos tinham
algum mérito, pois defendia uma nova ordem social, com paixão e fervor. Mas era
um centralizador totalitário e paranoico com manias de perseguição.
Não era autocrítico, sendo
mentalmente lógico-linear: “Os kulaks (fazendeiros abastados), são uma classe exploradora. Têm de ser privados dos
seus recursos!”.
Apesar de ambos se basearem nas interpretações
dos postulados de Karl Marx e Vladimir Lenine, Leon Trotski
(não sendo nenhum santo nem nada que se pareça), não era assim.
Nascido na Ucrânia, tornou-se
possuidor de uma grande cultura literária, sendo um político hábil e
experiente, bem como um grande orador (admirado por Lenine).
Teve um papel determinante na
consolidação do poder soviético (na Guerra Civil). Para Trotski, as estruturas
de poder deveriam ser
democráticas e os cargos rotativos, o que impediria que uma pessoa ou um certo grupo se apropriassem
dos benefícios da revolução.
Lenine, na sequência dos AVC que
o afastaram do exercício do poder, optaria por ele para liderar o Partido, em
detrimento de Estaline, sendo esta a origem de um ódio visceral que o obrigou
ao exílio.
Na Cidade do México (o último
dos muitos locais por onde passou), com a “colaboração” do casal Diego Rivera e
Frida Kahlo (com quem Trotski teve uma relação), foi assassinado com um golpe
de picareta na cabeça por Ramon Mercader, um enviado de Estaline (centralizador
nato do poder e seu maior opositor), motivado por um crescente “temor” pelas ideias
que contrariavam a sua forma de liderar.
“Se os fins justificam os meios,
o que justifica os fins? Qualquer fim é justificado se for um meio para
alcançar o poder do homem sobre a natureza e para abolir o poder do homem sobre
o homem. Só as ações que visem este fim podem ser consideradas adequadas. Um fim é, em si mesmo, um meio para outro fim” - Leon
Trotski
Como disse Péricles, para evitar
“vícios” de liderança, “a administração deve estar na mão de muitos e não de
poucos”.
A moral e a ética do poder são
temas milenarmente debatidos.
Três das religiões que mais cenários
de conflito apresentam entre si, estão, neste caso, de acordo. Para o judaísmo,
o cristianismo e o islamismo, o sistema de moralidade baseia-se no “comando
divino”: cabe a Deus (Alá) comandar e cabe aos humanos obedecer (o
comportamento virtuoso requer obediência, ao passo que desobedecer é
considerado pecado / proibido).
Alfred Ayer questionou isto,
afirmando que “nenhuma moralidade se pode fundar na autoridade, ainda que tal
autoridade seja divina”. De facto, se olharmos para o “Dilema de Eutífron” de Platão,
deparamos com a seguinte interrogação: “Aquilo que é bom será bom porque Deus o
ordena, ou será que Deus o ordena por ser bom? E se Deus ordenasse que matar
alguém fosse bom ou obrigatório?”
Temos então de ter cuidado com
as designadas “veredas escorregadias”, percebendo que utilizar os extremos é
uma forma de não debater possíveis pontos intermédios de entendimento, do tipo “ou
estás comigo ou contra mim” (como no caso da Santa Inquisição ou do Fundamentalismo
Islâmico).
Já Aristóteles dizia que a
virtude está no meio: “A virtude é um estado de caráter ligado à escolha que se
acha no meio definido por referência à razão. É um meio entre dois vícios, um
de excesso e outro de deficiência (…) pelo que a virtude procura e escolhe o
que é intermédio”.
Alfred Whitehead debateu-se então sobre o que seria a moralidade num dado lugar ou tempo, acabando por concluir que "é aquilo de que gostar a maioria, não existindo verdades absolutas, ou seja, todas as verdades são meias verdades". Algo que pode ser reforçado pela ideia de que "nada existe de bom ou de mau, é o pensamento que o torna assim" (William Shakespeare).
No seu livro “A montanha mágica”,
Thomas Mann leva esta mesma ideia mais além escrevendo que “a crítica marca a
origem do progresso e do esclarecimento”.
O problema é que “os homens constroem demasiados
muros e pontes a menos”, como afirmou Isaac Newton.
Pois se alguém se preocupou em destruir "muros" e construir "pontes", esse
alguém foi Mikhail Gorbachev ao despoletar a perestroika (reestruturação) e a glasnost
(abertura) do bloco soviético, assumindo o seu lugar na História ao deixar cair
um império, algo que o conduziu ao Prémio Nobel da Paz por devolver a liberdade e a dignidade a milhões de pessoas.
Em diálogo com Ronald Reagan e com
Margareth Thatcher, aceitou a redução do arsenal nuclear da União Soviética e
criou as condições necessárias para a queda do Muro de Berlim (1989).
Por motivos óbvios, a sua
popularidade na Rússia de Vladimir Putin é muito limitada, sendo-lhe apontada a responsabilidade de ter colocado em causa a posição dominante do Estado soviético perante o resto do mundo.
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